“Incluídos” é um curta-metragem, ambientado no Rio de Janeiro, que traduz o retrato da miséria e abandono de catadores de lixo, mostrando como eles sobrevivem em uma cidade mergulhada na onda do desemprego. Durante os 29 minutos de duração, o documentário acompanha desde a dura realidade dessas vidas, invisíveis aos olhos do governo, até o funcionamento de um sistema que não os favorece. Os relatos mostram vivências desconhecidas e desvalorizadas. Porém, mais do que documentar, essa é uma produção que também nos faz duvidar se o processo de reciclagem é realmente feito para fins sustentáveis ou apenas para lucrar em cima da exploração dos catadores. As histórias dos personagens são relatadas para causar indignação e, sem dúvidas, criticar.
A temática central do documentário envolve o processo da coleta de latas de alumínio e acompanha as dificuldades dos catadores para se sustentar. Um dos questionamentos é a forma como esse sistema movimenta a economia nacional, favorecendo empresários, mas desvalorizando ainda mais o trabalho árduo dos catadores, que se encontram em situação de precariedade e sem nenhum apoio das leis trabalhistas. Para o cinegrafista responsável pela produção e direção do curta, Renato Prata, era importante deixar claro que o trabalho dos catadores de materiais recicláveis -como eles se denominam- é o que sustenta boa parte do lucro das empresas de reciclagem de latinhas.
Essa foi a mensagem principal que ele quis passar no documentário. Renato diz que já assistiu muitos filmes e documentários contando a vida dessas pessoas, mas nunca viu nenhuma produção que abordasse a ligação direta da atividade com grandes empresas do ramo, sustentando indústrias de alumínio e bebidas. Por isso, o processo de produção também foi baseado em muito estudo e aprofundamento no tema. Segundo ele, a pré-produção envolveu trabalho de campo, que consiste em ir até o local das filmagens para conversar com os possíveis personagens e vivenciar a realidade deles.
Mas, presenciar essas experiências comoveu toda a equipe e foi o ponto chave para traduzir o que não é visto pela sociedade. “É sempre muito impactante quando você lida com essa realidade, porque são pessoas invisíveis na maior parte do tempo. A gente não presta atenção, mas eles estão aí, passam na sua porta revirando seu lixo, no centro da cidade, zona sul, em qualquer lugar”. Ele também completa falando sobre seu papel de cinegrafista e como as histórias dos catadores deixam uma mensagem importante para a população. “Nós não temos muito o que oferecer a eles, só chegamos e fizemos o filme em uma ou duas semanas. Mas eles nos deixaram ensinamentos, aprendizados, exemplos de vida e isso é o que fica registrado”.
Renato Prata Biar é historiador e cineasta com dois filmes lançados, disponíveis em seu canal no Youtube. Ele se apoia no cinema alternativo e independente, buscando trazer à tona temas sociais que são ofuscados e pouco discutidos pela mídia, até mesmo pela população em geral. É motivado pelas críticas às questões políticas e busca se posicionar diante de causas públicas. Diante do histórico de militância, ele conta que sua carreira é a continuidade dessa luta. “Antes de ser cineasta, eu sou militante. Minha inspiração vem da luta política e eu quis fazer do cinema mais uma ferramenta para isso.”
Sendo assim, não é à toa que a crítica social do curta-metragem já impactou os espectadores. “Não tenho a ilusão de que nenhum filme vá mudar a realidade, mas ouvi pessoas me dizendo que depois de ter assistido ao documentário, passaram a prestar mais atenção neles e perceberam que, de fato, os catadores estão em todos os lugares e isso trouxe muitos questionamentos sobre as condições de vida deles”.
Mas, apesar do reconhecimento, conduzir a produção no meio de uma pandemia não foi tarefa fácil. A vakinha eletrônica foi o mecanismo encontrado para levar o projeto até o fim, já que a indústria cinematográfica estava parada. Com isso, também surgiu o patrocínio do Grão por meio de um contato em comum. Ele conta que esse apoio se tornou essencial para bater a meta de arrecadação e finalizar o curta. “É uma parceria que surgiu em um momento difícil para arte e espero que se reproduza outras vezes”.
Por fim, Renato revela seu mais novo projeto: um filme produzido para a Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, em que relata a dura realidade dos profissionais da saúde durante a pandemia. Ele também diz que a produção segue a mesma linha de crítica e questionamento social, característica marcante em suas obras. O projeto já está finalizado, mas o lançamento está por conta da FioCruz e ainda não tem data prevista. Enquanto o próximo filme não sai, confira “Incluídos” completo e gratuito no Youtube.