Falar de lixo no Brasil é sobre negligenciar um processo que envolve muito mais do que o simples ato de descartar algum objeto ou resíduo orgânico. Esse tema abrange uma cadeia de produtos sendo eliminados de forma irresponsável com o meio ambiente, deixando um legado para gerações futuras de poluição e um cenário possivelmente irreversível. Mas, para entender melhor o impacto do lixo, vamos aos dados.
Segundo um estudo feito pela WWF (Fundo Mundial para a natureza), mais de 104 milhões de toneladas de plásticos irão poluir nossos ecossistemas até 2030. A pesquisa também aponta para outra situação preocupante. O volume de plástico que chega até os oceanos é de aproximadamente 20 milhões de toneladas e, caso continue nesse ritmo, serão encontradas 26 mil garrafas de plástico no mar a cada Km².
E não para por aí, diante desses números catastróficos, o Brasil se tornou o 4º maior produtor de lixo plástico do mundo, de acordo com dados avaliados pelo Banco Mundial. Com isso, o país ficou atrás apenas dos Estados Unidos, China e Índia. São 11,3 milhões de toneladas de plástico sendo descartados anualmente e somente 1,28% dessa quantidade é efetivamente reprocessada na cadeia de produção como produto secundário, o que significa que estamos bem abaixo da média global de reciclagem plástica, correspondente a 9%. Em resumo, pode-se considerar que o Brasil produz, em média, 1 quilo de lixo plástico por habitante a cada semana.
Esses índices destacam a necessidade de se atentar a outra questão importante quando se trata de lixo: os resíduos sólidos. Eles representam qualquer material proveniente da atividade humana. São comumente produzidos em residências, indústrias, hospitais, comércio, serviços urbanos em geral e, na maioria dos casos, podem ser reciclados para a reutilização. Mas não é o que acontece.
Segundo o panorama de resíduos sólidos no Brasil em 2020, estudo realizado pela Abrelpe – Associação Brasileira de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, a geração de resíduos sólidos cresceu 19% em 10 anos no país e a região sudeste foi a que mais contribuiu para esse aumento, respondendo a aproximadamente 50% da geração desses resíduos. Além disso, foi contabilizado que cada pessoa despeja 170 kg de matéria orgânica a cada ano. Para entender melhor esse cenário, veja o gráfico abaixo.
No ano de 2020 o Brasil chegou a gerar 79,6 milhões de toneladas de lixo e de acordo com o panorama existem fatores que comprovam esses dados alarmantes. Dentre esses motivos estão as mudanças nos padrões de consumo e descarte de resíduos, assim como o crescimento vegetativo e variação do poder aquisitivo, indicados pelo produto interno bruto (PIB).
Outros fatores também influenciam no aumento exponencial na produção de lixo. A ausência de cobranças dos municípios pelos serviços de coleta e gestão de resíduos bem como o uso de produtos descartáveis são indicativos de uma situação preocupante no futuro. Portanto, a necessidade de adotar medidas de redução e conscientização se tornam ainda mais urgentes, já que a Abrelpe prevê que em até 2050 o Brasil pode chegar a ter um aumento de 50% na geração de resíduos sólidos.
Diante dessas circunstâncias, é preciso encontrar soluções que tenham o potencial de conscientizar a população na mesma medida que proporcionem uma mudança de hábitos relacionados ao descarte inapropriado de resíduos. Nesse caso, baseando-se na ideia de ação coletiva que visa reduzir a maior quantidade de lixo possível na sociedade, o movimento Lixo Zero entra em questão.
O movimento promove a ideia de reaproveitamento de resíduos, redução do consumo de materiais tóxicos para o meio ambiente e diminuição do encaminhamento de lixo para os aterros sanitários e lixões. Portanto, são incentivadas ações em que materiais orgânicos viram adubo, produtos recicláveis sejam inseridos novamente na cadeia de produção e muitas outras que potencializam o conceito de Lixo Zero. A principal proposta é aproveitar ao máximo resíduos recicláveis ou orgânicos e encaminhá-los de forma correta para reciclagem ou aterros sanitários controlados.
É importante ressaltar também que a ação é mais do que a redução de lixo, é sobre mudar sistematicamente o estilo de vida exagerado e irresponsável com o meio ambiente construído pela sociedade de consumo. Quem adota essas condições passa a ser mais consciente dos caminhos e finalidades dos próprios resíduos antes de descartá-los e segundo a concepção estabelecida pela ZWIA- Zero Waste International Aliance- Lixo Zero é:
“Uma meta ética, econômica, eficiente e visionária para guiar as pessoas a mudar seus modos de vidas e práticas de forma a incentivar ciclos naturais sustentáveis, onde todos os materiais são projetados para permitir sua recuperação e uso pós-consumo”.
Partindo do princípio de que o movimento é compreendido como uma meta, segundo o Instituto Brasil Lixo Zero, ele também é de responsabilidade dos setores sociais e governamentais, como:
- Indústrias: na produção e design dos produtos
- Comércio: responsável pela comercialização desses produtos e indústrias pela geração de recursos
- Consumidor: na extremidade final do sistema- o consumo, o uso e o descarte.
- Governo: para harmonizar a responsabilidade de ambos- comunidade e indústria.
No entanto, não é necessário abrir mão do consumo, mas sim se responsabilizar e ter consciência na escolha de cada produto e ação. O movimento Lixo Zero é um comprometimento com o meio ambiente, é sobre se esforçar para reduzir o descarte de resíduos em grandes proporções. Seguindo esse objetivo surgem os R’s do Lixo Zero. Veja no quadro abaixo:
Por fim, existem diferentes maneiras de apoiar a ação na prática para que o lixo não seja descartado e tratado de forma irresponsável. Elas consistem em:
- Reduzir o consumo exagerado: quanto menor o consumo, menor a produção de resíduos. É importante consumir apenas o que é necessário e refletir antes de fazer uma compra. Avaliar as embalagens, seu material, pesquisar sobre os valores da marca e se ela está comprometida em ajudar o meio ambiente são os primeiros passos antes de comprar algo de forma superficial ou sem necessidade.
- Priorizar utensílios reutilizáveis: levar sacos de pano ou sacolas biodegradáveis para carregar compras diminui o uso de sacolas plásticas descartáveis. Outra opção importante é sempre levar canudos ou copos próprios na bolsa. Assim, evita o uso de descartáveis na rua e em restaurantes, que dificilmente serão reciclados ou descartados da maneira correta.
- Preferir embalagens reaproveitáveis: evitar embalagens feitas a partir de materiais plásticos e isopor, principalmente. É importante priorizar produtos que possam ser reaproveitados.
- Separar o lixo corretamente: o ideal é dividir o lixo em três setores: recicláveis, orgânicos que podem ser aproveitados em compostagem e rejeitos que são destinados ao aterro sanitário. Outra dica importante é procurar pelo ponto de coleta seletiva mais próximo da sua casa para garantir que o lixo seja despejado corretamente.
Essas ações, somadas às responsabilidades que competem à cada esfera social, são capazes de diminuir o impacto do lixo, como é tratado atualmente, para os próximos anos. Sendo assim, talvez, a população não chegue a concretizar o que foi dito inicialmente nesta matéria sobre as previsões de que daqui a alguns anos o mundo irá se encontrar sufocado pelo aumento do lixo.